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Como as características do design dos produtos são determinantes para a eficiência de recursos

08/04/2020

Um dos pontos centrais da Economia Circular (EC) consiste na discussão sobre diferentes ações para alcançar o uso eficiente de recursos. O princípio dos 3R’s (reduzir, reutilizar e reciclar) é um exemplo do estabelecimento de prioridades entre as ações, as quais são fortemente necessárias para que a EC forneça orientações amplas e previna o greenwashing.

No entanto, estes princípios ou hierarquias são descrições idealizadas que desconsideram as condições reais, como a combinação de ações, vida útil de materiais e produtos insuficientemente explorada, baixas taxas de coleta de resíduos e perdas em remanufatura, reparo e reciclagem. Com isso, os benefícios reais das ações podem ser significativamente menores do que os idealizados.

Considerando a possibilidade da interdependência das ações, surge o conceito de configurações circulares, onde várias ações diferentes trabalham juntas em sequência ou em paralelo. Métricas e outros métodos de avaliação desempenham um papel fundamental no entendimento mais profundo sobre a efetividade de tais interdependências. As técnicas de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) e Análise de Fluxo de Materiais e de Energia (AFM) podem ser implantadas para avaliar sistematicamente a efetividade de diferentes configurações circulares em diferentes contextos.

Böckin et al. (2020) investigaram quais características físicas dos produtos governam a eficácia das ações para eficiência de recursos. Para isso, os autores criaram uma biblioteca de avaliações comparativas (principalmente avaliações de ciclo de vida e análises de fluxo de material), cobrindo uma ampla gama de produtos e ações de eficiência de recursos.

Uma estrutura foi formulada para analisar quais ações sobre características do produto tendem a melhorar a eficiência de recursos e em quais contextos existem compensações (trade-offs) a serem consideradas. Por exemplo, o compartilhamento de produtos é mais adequado para produtos duráveis e usados com pouca frequência. E uma desvantagem é que o compartilhamento pode aumentar as distâncias envolvidas no transporte para viabilizar o compartilhamento.

As principais características do produto identificadas foram: se os produtos são consumíveis ou duráveis, ativos ou passivos, normalmente usados por toda a vida útil técnica ou descartados antes de serem consumidos, a frequência de uso do produto e se a função permanece no final do uso.

Destacamos também alguns pontos relevantes:

    • Grande parte da discussão sobre EC refere-se a produtos duráveis e a extensão de seu uso, enquanto produtos consumíveis, para os quais a extensão de vida útil não é relevante, recebem menos atenção. Por isso, os autores fizeram uma distinção adicional entre produtos consumíveis usados de maneira dissipativa (por exemplo, alimentos e detergentes) e produtos descartáveis (por exemplo, embalagens). Um bem consumível usado de modo dissipativo não pode ser reciclado, mas pode, por exemplo, ser produzido e usado com mais eficiência. Além disso, um material descartável pode ser redesenhado para uso múltiplo ou seu material pode ser reciclado.
  • • Para produtos duráveis, todas as ações visando o uso prolongado são relevantes, além da eficiência na produção e pós-uso.
  • • Para produtos ativos, que usam energia ou materiais auxiliares na fase de uso, a eficiência da fase de uso (uso reduzido de energia ou material auxiliar) é importante e pode até superar os benefícios de estender o uso do produto.
  • • Para produtos usados com pouca frequência, o compartilhamento é uma medida potencialmente adequada, embora por si só não melhore a eficiência de recursos para produtos que tendem a ser usados por toda a vida útil técnica. O redirecionamento é adequado para produtos com funcionalidade restante no final do uso.
  • • Para produtos para os quais a extração e produção de matérias-primas dominam, é importante evitar perdas ao longo do ciclo de vida.

Para uma leitura mais aprofundada sobre o tema consulte o artigo publicado na revista Resources, Conservation and Recycling.