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Desmistificando as Categorias de Impacto: Mudança do Uso da Terra

14/10/2020

Mudança do Uso da Terra (MUT) foi a categoria da vez escolhida para compor a série de artigos redigidos pela PRé Sustainability com o objetivo de desmistificar as categorias de impacto menos exploradas.

O aumento populacional em conjunto com a demanda por alimento e a exploração descontrolada de recursos causam uma pressão crescente sobre a terra disponível e uma variedade de problemas ambientais. Vamos ver adiante as diferentes abordagens da Avaliação ou Análise do Ciclo de Vida (ACV) para mensurar quais são estes efeitos deletérios.

Na ACV, consideramos a quantidade e a função da área utilizada para um determinado produto ou processo. Mais especificamente, duas categorias são definidas.

  • • A primeira categoria é sobre a quantidade de terra que é ocupada por um determinado período para produzir um produto. Por exemplo, para produzir 6.500 kg de farinha, pode-se precisar de cerca de 1 hectare de terra agrícola por um ano inteiro, ou seja, 1 hectare por ano.
  • • A segunda categoria é sobre a quantidade de terra que precisa ser transformada de um tipo para outro. Por exemplo, para este mesmo 1 kg de farinha, também pode ser necessário converter 150 m² de vegetação rasteira qualquer em terras agrícolas, adequadas para o cultivo do trigo para a farinha.

As mudanças no uso do solo nem sempre são consequências diretas do ciclo de vida do insumo escolhido para um produto. Portanto, há uma distinção: mudanças diretas surgem quando o sistema de produto por que opta causa diretamente a alteração, enquanto as indiretas ocorrem mais acima nas cadeias de suprimentos.

E, por que isto pode ser considerado um problema ambiental?

As transformações no uso do solo em grande escala podem resultar na perda irreversível de certas funções. E a redução das funções desempenhadas pela terra pode afetar a saúde humana, diminuir a qualidade dos ecossistemas e esgotar recursos.

Existem muitas maneiras de medir os impactos do uso da terra, cada uma com seus próprios modelos e indicadores correspondentes. Isso significa que os resultados têm significados diferentes.

  • • No método ReCiPe2016, o uso da terra é quantificado como Ocupação de Terra Agrícola e, de modo simplificado, mede a quantidade de área agricultável que é usada por um determinado tempo.
  • • As recomendações do ILCD são no sentido de quantificar a perda de matéria orgânica do solo. Este indicador reflete muitos, embora não todos, dos efeitos da transformação e ocupação do solo na qualidade das áreas disponíveis.
  • • A Environmental Footprint 3.0 desenvolveu recentemente um novo indicador agregado adimensional, o Índice de Qualidade do Solo, levando em consideração muitas propriedades do solo.

Segundo as diretrizes do GHG Protocol e PAS 2050, há um consenso para considerarmos a mudança do uso da terra ocorrida nos últimos 20 anos. O desafio é sabermos qual era o uso anterior da área envolvida no nosso sistema de produto. Felizmente, podemos recorrer ao método BRLUC desenvolvido pela Embrapa, que possibilita estimar cenários de mudanças de uso da terra dos últimos 20 anos (entre 1996 e 2015). Ele ainda traz taxas de emissão de CO2 derivadas, para o Brasil e para os 27 estados, associadas à 64 culturas, pastagens e silvicultura, com base em estatísticas de séries temporais e de acordo com padrões internacionais. O uso de aerofotogrametria para acessar padrões anteriores de vegetação também é um método bastante eficaz para esse fim.

Apesar da categoria de mudança do uso da terra ter uma contribuição mais significativa para produtos agrícolas, é importante considerá-la de modo transversal em todos os elos de fornecimento, tendo em vista que um uso indevido da terra por vezes acontece em ponto distante, a montante da cadeia de abastecimento. A partir do uso da ACV e de modelos científicos, podemos fornecer os fundamentos necessários para determinar com eficácia os impactos do uso da solo.

Recomendamos a leitura do artigo completo elaborado por Hendrik Oosterhoff e Wouter van Kootwijk da PRé Sustainability.

Leia mais sobre outras categorias de impacto: Eutrofização, Depleção da Camada de Ozônio e Radiação Ionizante.